domingo, 16 de janeiro de 2011

Morte Fetal

O sono as vezes me cega. Sinto tanta preguiça de ver, ouvir, sorrir. Sempre durmo às duas da manhã; se demoro ao deitar viro o oposto do que sou: hiperativa e humorista. Mas, não sei, não sei. Não sei se é pelas pessoas ao redor, pela diversão delas ou por elas serem - só sei que tenho vontade de dormir bem pouco se, assim, eu me tornar mais simpática.
Já não sei se é o sono, as pessoas ou a loucura - sinto que não estou na realidade. Corpo estranho, silêncio em mim, música e falas ao redor que não me perturbam. E ele ali, todo besta, sorrindo para si e para mim. Também estou toda besta, feliz, satisfeita, calma e alegre - apesar de não me sentir.
Há momento que VOU CAIR! Por isso durmo, entende? Não é uma sensação falsa, eu vou cair mesmo, desmaiar e me espatifar no chão. E a qualquer momento. Ontem mesmo! Sentada, vendo-os comer - tudo belo, até que fiquei tonta! O que acontece, meu Deus?! Suor frio, corpo quente, imagens embaçadas, ânsia.
- Não estou bem.
Dor, dor e dor!
- Porque não fiz os exames, inferno?!


Jogo-me em seus braços, sinto sua vontade de ajudar em seu olhar junto com o não saber o que fazer.
- Ajude-me! Não estou ficando cega, mas Deus, como é ruim!
Consigo ver alguns dos amigos por lá, preocupados, distantes, com medo. Imagine uma foto antiga onde a borda é preta e vai esclarecendo quando chega ao meio. Então. Não é cegueira, é piração.
- Senta aqui.
Sento. E jogo rosto e braços em cima da mesa. Respiro fundo. Várias vezes. Penso em milhares de coisas ao mesmo tempo, coisas que podem ter me deixado nesse estado. Começo a melhorar.
- Estou melhor.
Suor frio, corpo quente, visão fodida. E seguro sua mão.
- Estou melhor.
Então, vamos comer - porque quando se é jovem e está na praia sem adultos responsáveis, o problema é a comida, sempre. Ele me guia. Eu consigo andar!
Estou com medo, perdida.
Ele não solta da minha mão, me olha e pergunta o que quero comer. Conversamos por segundos. A sensação não passa: estou perdida. Ando sem saber como o faço. Desvio do buraco sem saber o porque. Olho, observo, sem saber: O que são eles? Com esforço, lembro: Ah! Pessoas! Eu tento responder a pergunta que ele me fez. Lembro do que desejo comer. A imagem me vem perfeitamente e saborosamente:
- Eu quero comer... Como chama?
- Não sei, o que?
- Aquele negócio...
Andamos mais.
A imagem da comida ainda em minha cabeça. Está na ponta da língua, mas é o silêncio que predomina. A memória morreu de vez nesse processo. Sou, agora, definitivamente, uma criança. As palavras morreram. O significado morreu. A fala morreu. Então, todo o meu organismo seguiu o mesmo caminho, eliminando qualquer possibilidade de expressão. Uma escritora morreu sem ao menos saber escrever.