Estava no começo da minha juventude: 18 anos. Algumas coisas haviam mudado e não acreditava como me deixavam comprar bebidas sem haver uma expressão de ‘sério?!’, apesar de muitas vezes escutar o comentário: ‘mas tem carinha de 12!’. Normal.
Porém nesse fim-de-semana haveria uma festa, dessas de homens de terno, músicas calmas no começo e DJ no fim. Minhas amigas estariam todas ocupadas com vestibulares e família, mas criei coragem para ir sozinha – fazia tempo que queria saber como é ir em lugares lotados sem ninguém conhecido por perto, enchendo o saco. Havia colocado um vestido longo preto e decotado – claro, com uma sandália igualmente preta. Gostava de usar preto por ser tão branca, a diferença me encantava.
Cheguei tarde na tal festa, como queria, e logo observei quem estava por lá: ninguém que conheço... Tinha conseguido o convite pela tia da Bárbara, da high society. A Bárbara, enfim, estaria por lá, mas teria obrigações de parente da anfitriã.
Andei em volta do salão e vi que havia um espaço aberto com flores, pedras e um chafariz. Mas não cheguei a ir, estava um vento frio e o bar era do outro lado e virando para a direita, vi a Bárbara chegando com um sorriso no rosto:
- Ah que bom que você veio! Pelo alguém de quem eu realmente gosto está aqui! – Dois beijinhos no rosto – E como você está? Tá linda viu? As outras meninas não puderam vir né, véspera de vestibular é bem complicado, mas espero que você goste da festa mesmo assim!
E sem conseguir responder a nada, ela virou e foi cumprimentar o primo. Eu segui meu caminho rumo ao vinho.
O balcão formava um quadrado dentro do salão, dentro havia as bebidas e os bar-man. Fora ficavam os bancos, no qual me sentei e mudando de idéia pedi uma batida de vodka com morango, a entrega fora rápida. Virei de costas para o bar a principio de ver as pessoas... Mulheres, vestidos; homens, terno. Sério, tinha cada roupa feia nesse lugar. Meninas da minha idade usavam vestidos azuis, florescente! Eu ri, principalmente quando vi duas delas vestidas igualzinhas, mas acabou ficando chato de se ver e voltei a mexer no meu copo.
*
As horas passaram e o jantar já tinha sido servido – eu comi tudo que não me deu nojo... Comida de rico é estranha: lagostas e polvo não eram muito agradáveis. Fiquei no básico arroz, strognoff, salada e outras coisas que não sei o que era. Sentei na mesa onde tinha o meu nome e conversei com as pessoas ao lado por no máximo dez minutos – que foi o tempo de comer e arrumar uma desculpa para não ouvir mais o rapaz ao lado falar.
Voltei ao meu lugar e quando pedi um copo de refrigerante, se intrometeram:
- Refrigerante? Com tanta bebida de graça?
- Né, pois é.
- Já bebeu de mais?
- Também.
- Acontece.
E sentou do meu lado, o que me fez olhar para seu rosto. Cabelos pretos, olhos pretos, pele branca. O que me fez olhar para seu corpo. Terno, sapato, proporcional a face. Era um homem, uns vinte e cinco anos, aparentava ser bem decidido, sucedido, confiante. Sorri, e logo virei para receber meu refrigerante enquanto davam á ele o uísque.
Tomou-o em um gole, nada mais pediu e continuou lá. Eu ficava rindo, e ele olhando para mim.
- Gosto do seu cabelo, não é preto.
...
- Afinal, que cor é essa?
- Tentativa de vermelho.
- Uau, fracassou legal hein.
- Cala boca.
- Haha, mas poxa...! – ficou de frente para o meu lado. – Eu ainda assim disse que gostei do seu cabelo.
- É, valeu.
Da outra sala veio o som da música,lenta. Ele olhou para o chão. Eu tentava demonstrar que não o via. Olhou para mim e riu.
- Quer dançar?
Olhei para ele, roubei o uísque que ele havia pedido.
- Eu não tenho idéia de como se faz isso, querido.
- Vem logo. – me pegou no braço fazendo o banco girar e segurou minha mão. Levantei quase caindo e lá fomos nós, “dançar”.
Não conhecia a música que estava tocando, bossa-nova me parece, mas não importa também. Logo que chegamos ao salão ele segurou minhas mãos, olhou para mim olhando para ele, puxou-me para perto e começou a mexer os pés e eu tentando acompanha-lo. Pisei no pé dele várias vezes, de propósito. Subi em cima dos pés dele por vontade própria, mas logo desci. O salão não estava tão cheio, só com alguns casais lá do outro lado.
“Dançamos” mais um pouco, até quando pisei no pé dele, de novo, e acabei por me apoiar na parede. Ele me segurou pela cintura, nos olhamos e nos beijamos. Sua mão continuava em minha cintura, a outra estava em meu pescoço. Eu o abraçava e mexia em seu cabelo. Ele começou a descer, beijar meu pescoço e descer para meus seios. Colocou a alça do vestido para o lado, abaixou um pouco o pano preto que tampava meu corpo, e logo viu meu sutien azul não-florescente e de renda.
- Aqui não.
Com tudo no lugar, fomos mais adiante, naquela parte de flores, pedras e chafariz. As pedras no chão formavam um caminho, ao lado dela havia as flores e árvores e antes delas, tinha o chafariz, depois das pedras, tinha uma casa. Bem pequena, de criança brincar. Ao caminho dessa casa, o vi. Bem ali, ELE. Que infernos ele estava fazendo lá? Já tinha me tido que não gostava de tirar a liberdade das pessoas de terem outras. Que me queria, mas também adora a intensidade de uma paixão desconhecida; Ele me viu também, sorrimos e ele sumiu. Entrei na casinha com o Vinte E Cinco Anos um tanto abalada pelo encontro. O Vinte E Cinco Anos colocou-se a minha frente e perguntou se estava tudo bem.
- Claro. - Sorriu, acariciou meus cabelos e me beijou.
A casa não era tão pequena, não era de criança brincar – não sei nem porque a fizeram bem lá. Mas não havia mais ninguém á menos de cinco metros de distância. E havia também uma cama. A casa era inteiramente branca, por fora e por dentro. Não havia uma porta de entrada, logo era a sala e ao lado um ‘quarto’, onde estava a cama, também branca. Não havia portas – a não ser a do banheiro. E enquanto eu estranhava tudo isso, o Vinte E Cinco Anos me puxou pela mão, me pegou na cintura e recomeçou com os beijos. Recomeçou no pescoço, nos seios enquanto eu desabotoava sua calça, tirava seu paletó, arrancava a gravata. Logo estávamos somente com de roupa íntima e nos olhamos sem fôlego, sem entender e sorri; sorrisinho de lado, safado. Ele adorou e estávamos na cama, cada vez mais sem menos fôlego, cada vez mais sem entender, cada vez mais sem pensar.
O desconhecido, o passado ali presente e o perigo deixaram tudo excitante, intenso. Logo estávamos deitados, olhando para o teto branco.
- Tenho que ir.
- Me liga.
Ele sabia que não tinha seu telefone, nem ele o meu.