quarta-feira, 27 de junho de 2012

Melancholia


     Você diz que eu ando distante - ao seu lado, mas nas estrelas -, não vim procurar brigar, nem ao menos te contradizer. Ando em outro mundos na maioria dos meus dias e me acostumei a viajar, ir pra longe do que é real, ir, ir e ir. Como uma brisa de vento, que só vai. Foda-se pra onde, só vai. São os meus dias, noites, madrugadas nos livros e seriados e filmes: estou cercada de fantasias, para ver se me distraio dessa realidade entediante.

    Aprendi a olhar para o nada e imaginar a gente, meu passado, meu futuro. Só paro e fico olhando, 'monossílabaca' com quem vem conversar, já que pessoas são tão reais. Reaprendi a valorizar o silêncio, o nada. Quando saio na rua: meu deus! desliguem esses sons de carros e cachorros antes que meus ouvidos sangrem! apaguem essa luz que me arde a pele, limpem meu caminho! tirem esses buracos, construções e desconhecidos! não quero, não quero, não preciso!

     Tudo torna-se real quando eu converso com você, mas o que conversar se nada há para dizer? Nenhum acontecimento novo, nada importante. E eu esqueço, esqueço e esqueço e me odeio! Não quero esquecer, mas demoro para te contar as coisas, percebe? E como lembrar de te dizer coisas tão supérfluas quando até banho eu esqueço de tomar? E esta tosse? meu deus, meu deus, é como se eu não aguentasse mais nada de nada e meu corpo quer me jogar para fora de mim mesma! Saia, saia de mim - e não volte, nunca mais. Sou tão ingênua de mim mesma que me sinto tão não eu, mesmo sabendo que serei sempre eu e passeando por aí, por aqui, por lá eu leio: "queria me ver com teus olhos". Que lindo! É lindo! Será que se eu me ver com os teus olhos vou, finalmente, conseguir me amar? Fiquei entusiasmada, excitada! Quero tentar, há como me ver com teus olhos? Eu quero me amar! Há tantas saudades neste meu coração, tão pequeno, acredito. Saudades de ti, de amigos, de família - coisas que tinha, dei valor e mesmo assim, é pó -, mas saudades enormes, meu bem, enormes de ter ânimo para colocar os pés no chão ao acordar. Acordar, sorrir e gritar "Bom dia Viatnã!".

Eu sou o rei do mundo, não sou?
- Do seu mundo, só se for.
- Mas é aquela sensação, você sabe, de sentir tudo que tudo em sua volta está em paz e que, sei lá, você ajudou a construir essa paz.
- Você, construir?
- É, conseguir...

     O rei do mundo da minha cabeça, onde tudo é distorcido - pro bem ou pro mal -, conversando comigo mesma, imaginando as piores e melhores retóricas de alguém que muitas vezes penso ser você, mas sou eu disfarçada para ver, quem sabe, consigo me convencer de algo - e nem sei do que quero me convencer! De que a vida é bela? De que há amor? Eu sei, eu sei. Mas como sorrir se minha vida, meu amor, estão tão longe de mim?

- Ah, quanto mimimi!
- É, isso não é sobre você, é sobre eu e meu mundo de esperanças e frustrações. E questões, muitas. Não me calo! (e, shh, ninguém me ouve)

Mas depois de tanto falatório mudo e conversas solitárias, no fim da noite, de baixo de cobertas, sabe o que fica dos meus dias? Um bonito "foda-se, logo menos vou visitar o seu mundo" e me re-encantar por todos os outros mundos. Eu vou, mesmo, acredite - mesmo assim, de cabelo oleoso, maquiagem borrada e pijama furado, eu vou.