quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Pintando Você

    Bateu saudade.
    Saudade de chegar do centro espírita, pegar os lápis coloridos e pintar todos os desenhos da mais nova revistinha de colorir que minha mãe tinha acabado de comprar. Pintando enquanto pensava na aulinha que assisti: amar ao próximo. Para um criança as 'regras' de como você deverá agir em todas as situações da sua vida são bem, bem importantes, principalmente se, desde sua primeira respiração falhada, você se sente perdida, sem saber o que fazer, como agir. Incompreendendo as pessoas e suas ações.  Mas a vida não pára nas revistinhas de colorir, em seguida você quer desenhar e pintar seus próprios desenhos, chegar a perfeição das revistinhas - mesmo que sua pintura ainda falha. Mal sabe desenhar mãos e olhos e compra seu primeiro livro e começa a lê-lo logo que chega daquele mesmo centro espírita. "Talvez, se eu carregar esse livro sempre comigo eu saiba o que fazer em todas as situações e não terei vergonha de conversar com qualquer pessoa". E passo muitos, muitos anos - a cada ano carregando um novo livro - não tem como, não há regras sobre como agir com as pessoas, ou se há (e vamos ser claros, deve haver, é essa coisa de 'ser educado', simpático e sorrir e acenar), sei lá, não sei segui-las e deveriam mandar-me para uma prisão para reaprender a me comportar em lugares públicos, com amigos e com família. Tem de haver um jeito de fazer essa pressão de ser legal e boa e engraçada e simpática e confiável e amigável ir embora e ser somente quem você é (mas isso causa tantos, mas tantos problemas que, convenhamos, ás vezes é melhor fingir. Ás vezes, ou vira costume, vício e medo de confiar de novo - e cada nova pessoa é mais uma queda, perda da confiança).
    Um dia a gente aprende a andar com um livro que nós mesmo escrevemos, e por ter demorado tanto por te-lo escrito, fica tudo bem guardado. Difícil é aguentar as mudanças que fazemos nessas palavras a cada novo dia - uns dias mais do que em outros, sempre renovando. Mas mais complicado ainda é equilibrar, unir o aprendizado que está na revistinha, nos desenhos e nos livros com as experiencias da vida real. São caminhos opostos, como que, se você acredita em príncipe encantados, ele demorará para chegar. Do inverso, quando menos esperar, estará lá. 
    Nunca fui de esperar e clamar pelo príncipe. Creio que não me importava se fosse homem ou mulher, criança ou adulto, só queria alguém com quem eu pudesse ser eu mesma em todos detalhes de todos os dias pelo resto da minha vida, confiar no sentido mais puro da palavra - mostrar quem você é e esperar pelo melhor. Alguém com quem não precisasse fingir e, provavelmente por culpa somente minha, isso demorou a acontecer,  mas hoje eu tenho para quem correr e esse alguém está em uma banca de revista comprando uma revistinha de colorir e vindo me ver. Meus lápis estão em cima da mesa, e a porta aberta.

3 comentários:

  1. "Mas a vida não pára nas revistinhas de colorir"
    Esse é o defeito da vida.

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  2. Aproveite muito e não esqueça nenhum detalhe. Uma vez teve alguém que trazia Halls pra mim sempre que tinha dor de garganta. Isso já faz um tempo...

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  3. Olá!
    Foi um grande prazer conhecer seu blog.Aproveito meu tempo para navegar e ler textos e poemas feitos por pessoas que gostam de escrever.
    Que bom que você é uma delas.
    Grande abraço
    se cuida

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